O nome de Celso Andrade Lopes (PDT), ex-vereador de São Borja, voltou ao centro de um escândalo político e criminal. Ele foi indiciado nesta semana pela Polícia Federal por falsidade ideológica e fraude processual, em um caso que expõe suspeitas de envolvimento com uma facção criminosa atuante na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul.
A investigação revela que Lopes teria mentido à Justiça Eleitoral ao negar participação em uma festa de familiares de um dos chefes do crime organizado na região. O evento aconteceu durante a campanha eleitoral de 2024, quando ele tentou a reeleição, sem sucesso.
Apesar de sua breve passagem pela política — eleito em 2020 com base na popularidade conquistada como empresário dos setores de restaurante e hotelaria —, Lopes vem sendo investigado desde o ano passado por suspeitas de receber apoio ilícito de uma facção criminosa.
Segundo o Ministério Público, a organização teria oferecido dinheiro, materiais de construção, cestas básicas e até próteses dentárias para fortalecer sua campanha.
A ofensiva policial começou às vésperas das eleições de outubro, com 16 mandados de busca e apreensão e quebra de sigilos dos envolvidos. No centro das investigações, estava o elo entre o ex-vereador e a estrutura do crime organizado.
O Ministério Público pede sua cassação como suplente, inelegibilidade por oito anos e aplicação de multa por abuso de poder econômico e compra de votos.
A farsa desmascarada
Na tentativa de livrar-se da acusação de ter comparecido à festa ligada à facção, Lopes apresentou à Justiça uma declaração assinada por uma testemunha, registrada em cartório, garantindo que ele não esteve no local. A estratégia parecia convincente — até que a PF localizou um vídeo em que o ex-vereador aparece conversando com essa mesma testemunha no evento.
Confrontado com a gravação, o homem voltou atrás. Admitiu que estava na festa com Lopes e revelou que assinou o documento a pedido do advogado do ex-vereador, Guilherme Demoro. Segundo o depoimento, o próprio advogado teria redigido a declaração, o que configura tentativa deliberada de manipular a investigação.
Antes disso, uma fotografia incluída erroneamente no inquérito — que mostrava um amigo de Lopes — foi usada pela defesa para alegar que a polícia havia se equivocado. Com a nova evidência em vídeo, porém, a manobra ruiu.
Com base nos novos elementos — o vídeo, diálogos extraídos do celular de Lopes e a retratação da testemunha — a PF decidiu indiciar os três envolvidos: o ex-vereador, o advogado e a testemunha.
O inquérito sobre os vínculos de Lopes com o crime organizado ainda está em andamento.
O que dizem os envolvidos
A defesa de Celso Andrade Lopes
O ex-vereador não respondeu aos novos questionamentos da reportagem do site Sb News. Em dezembro, ao comentar o pedido de cassação feito pelo MP, limitou-se a dizer:
“Fico grato pela oportunidade de me defender, mas fui aconselhado pelos advogados a não me manifestar. Vamos nos defender.”
O advogado Guilherme Demoro
Demoro declarou que a fotografia usada inicialmente no inquérito não retratava Lopes. Por isso, buscou a testemunha para atestar a suposta ausência do cliente na festa. Ele nega saber que o ex-vereador de fato estava no local.