A relação entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o bilionário Elon Musk, que já marcada por proximidade estratégica, apoio financeiro e trocas públicas de elogios, sofreu uma ruptura drástica nesta quinta-feira (5), após uma série de ataques mútuos envolvendo acusações graves, críticas a projetos econômicos e ameaças institucionais.
O ponto culminante da crise ocorreu com uma publicação de Elon Musk na rede social X (antigo Twitter), em que o empresário acusou Trump de estar entre os nomes citados nos chamados “arquivos de Epstein” — um conjunto de documentos sigilosos relacionados ao financista Jeffrey Epstein, condenado por tráfico sexual e que faleceu em 2019, em condições suspeitas, enquanto aguardava julgamento.
“Hora de soltar a bomba: @realDonaldTrump está nos arquivos de Epstein. Essa é a verdadeira razão pela qual eles não foram tornados públicos”, escreveu Musk. Em uma postagem seguinte, reforçou: “Marque esta publicação para o futuro. A verdade virá à tona.”
A acusação, feita sem apresentação de provas, intensificou uma escalada de tensões que já vinha se desenrolando desde que Musk deixou uma função de influência no governo Trump.
O bilionário exercia papel de liderança no chamado DOGE (Departamento de Otimização da Governança e Eficiência), um órgão criado pela administração republicana com o objetivo de promover a modernização tecnológica e a racionalização de gastos federais. A atuação de Musk no DOGE ficou marcada por projetos de automação burocrática e cortes em programas que, segundo ele, “oneravam desnecessariamente o contribuinte americano”, como programas de incentivo a diversidade.
A crise teve início com críticas públicas de Musk ao “Grande e Belo Projeto de Lei” de Trump — uma proposta de reforma fiscal que visa tornar permanentes os cortes de impostos aprovados em 2017, além de eliminar tributos sobre gorjetas e horas extras, e reduzir incentivos a energias renováveis.
O projeto, aprovado na Câmara, enfrenta resistência no Senado, em meio a críticas de que poderá elevar o déficit público em trilhões de dólares ao longo da próxima década.Musk classificou a proposta como uma “abominação repugnante”, acusando o presidente de comprometer a inovação e a competitividade energética.
Trump reagiu em entrevista a jornalistas no Salão Oval, afirmando estar “muito decepcionado” com o empresário. “Elon e eu tínhamos um ótimo relacionamento. Não sei se continuaremos tendo”, declarou o presidente, acrescentando que Musk “conhecia todos os aspectos deste projeto de lei” e que as críticas vieram apenas após sua saída do governo.
Musk por outro lado disse que o projeto não lhe foi apresentado e que foi votado de forma tão rápido que a maioria dos legisladores sequer tiveram tempo de ler a proposta. Pouco depois, em resposta nas redes sociais, Musk também contestou a versão de Trump e afirmou que o presidente era “ingrato”, declarando que “sem mim, Trump teria perdido a eleição”.
Em retaliação, Trump publicou em sua plataforma Truth Social uma ameaça explícita de revisão dos contratos e subsídios federais direcionados às empresas de Musk, como Tesla e SpaceX. A escalada se agravou com o bilionário pedindo o impeachment do presidente.
O episódio marca o fim de uma aliança que, até poucos dias atrás, era vista como simbiótica. Musk, com sua influência empresarial e tecnológica, fornecia ao governo Trump uma imagem de modernização e inovação. Em troca, suas empresas se beneficiavam de contratos federais e uma política regulatória favorável.
A ruptura pública entre ambos agora gera incertezas no cenário político e econômico norte-americano, afetando diretamente setores estratégicos como energia, tecnologia e exploração espacial. E, com a acusação de Musk envolvendo os “arquivos de Epstein” — um tema frequentemente explorado por teóricos da conspiração, mas ainda envolto em sigilo judicial —, o confronto ultrapassa o campo político e entra em uma esfera de reputações pessoais e disputas jurídicas de alto risco.
Até o momento, Musk não explicou como teria acesso aos documentos sigilosos mencionados, e a Casa Branca não se manifestou oficialmente sobre o caso. Enquanto isso, o cenário sugere que o embate entre os dois bilionários está longe de se encerrar.