Crônica: A Praça É Nossa

Por Gastão Ponsi

Ah, a minha outrora pacata cidade, que se vangloriava de ter uma praça digna de cartão postal, agora se transformou num circo urbano que faria inveja a qualquer picadeiro!

Antigamente, era aquele oásis de paz, com bancos convidativos, árvores frondosas e crianças correndo soltas num balé de alegria, nas saídas do colégio das freiras.

Hoje, virou um amontoado de quinquilharias, onde cada metro quadrado é disputado a tapa, como se fosse o último brigadeiro de festa de aniversário.

(Foto: Juliana de Medeiros Alves)

Tudo começou com a inocente pracinha de brinquedos “João das Balas”, depois a feirinha de artesanato, que até tinha seu charme peculiar, com seus colares de macarrão coloridos e panos de prato bordados com galinhas caipiras.

Mas, como tudo que é bom dura pouco, a prefeitura resolveu turbinar a praça, com vendedores ambulantes, banheiros públicos com “aroma de pinho” e mistério, e um centro de atendimento ao turista, com suas filas intermináveis que mais parecem procissões de penitentes em busca de água benta.

E não para por aí!

Após a construção do Mausoléu do Presidente Getúlio Vargas, que serve para aprofundar a rusga entre “chimangos” e “maragatos” (como se não tivéssemos problemas maiores, como a falta de espaço na praça para as placas que anunciam o apocalipse), veio o “busto de Leonel Brizola”, o troféu do Internacional (que, segundo os gremistas, está ali para enfeiar a paisagem) e os deslumbrantes arcos brancos, que mais parecem portais para outra dimensão.

Mas, para não esquecer, há o busto de Aparício Mariense da Silva, atualmente em má conservação, escondido no meio de folhagens, como se fosse um ET fugitivo que se esconde da multidão (e das placas que anunciam o apocalipse).

E, para finalizar, a ocupação da Plataforma Cívica Teotônio Vilela, que se transformou em pousada noturna, abrigando as almas expulsas da igreja próxima, que agora dormem ao relento, embaladas pelo som dos vendedores ambulantes e dos bêbados que fazem serenata para os postes.

O resultado?

Uma praça caótica, onde as árvores mal conseguem respirar, sufocadas pela poluição sonora e visual, e as crianças brincam espremidas ao relento, como sardinhas enlatadas.

A tranquilidade de outrora deu lugar a um burburinho ensurdecedor, que só é interrompido pelos anúncios estridentes dos vendedores e pelos arrotos desafinados dos borrachos.

E, para coroar essa obra-prima da desordem urbana, a prefeitura ainda tem planos de construir um Museu Missioneiro no meio de tudo isso!

Será que não vai chegar ao ponto de lotearem espaços na praça? Ou doarem para alguma empresa utilizar como garantia de financiamento bancário? Ou quem sabe onde ilustres políticos, através das ditas “emendas parlamentares”, construirem estátuas de si mesmos com placas que mencionariam o nome do vereador da cidade que “trouxe a obra”?

Dizem que é para “revitalizar” o espaço e atrair mais turistas, como se os turistas fossem masoquistas que adoram multidões, barulho, cheiro de mijo e tranqueira no trânsito.

Mas eu me pergunto: será que ainda vai sobrar espaço para as pessoas? Ou será, definitivamente, um espaço onde são empilhadas obras dos sucessivos governos para que, do gabinete central, se transforme em uma “paisagem de obras”, para adoração contemplativa de seu ocupante?

Lembram-se dos tempos em que a praça era um lugar de encontro, de lazer e de sossego, onde as árvores sussurravam canções de ninar e as crianças brincavam sem se preocupar com o espaço vital?

Hoje, só resta a lembrança e a certeza de que, em breve, não haverá mais praça para contar história, apenas um amontoado de quinquilharias, um museu para guardar a memória de como era bom quando não era assim e placas que anunciam o apocalipse piscando em neon.

Ah, e para aqueles que ainda insistem em buscar um pouco de ar fresco, sugiro que ocupem as bordas das calçadas no entorno da praça, mas corram, pois a prefeitura já está planejando a expansão para abrigar mais obras (talvez um parque de diversões com montanha russa passando por dentro do museu, placas que anunciam o apocalipse em loop infinito e um conjunto habitacional para tentar mudar os ninhos dos pombos que ficam bisbilhotando o Prefeito através das janelas)…

Maicon Schlosser

Jornalista

Related Posts:

  • All Post
  • Coluna - Gastão Ponsi
  • Coluna - Gatão Ponsi
  • Cultura
  • Economia
  • Educação
  • Entrevista
  • Esporte
  • Exército
  • Geral
  • Interesse público
  • Meio ambiente
  • Obituário
  • Polêmica
  • Policial
  • Política
  • Religião
  • São Borja
  • Saúde e bem estar
  • Tragédia
  • Uncategorized

Deixe sua opinião

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Sobre nós

O Novo Olhar Sobre a Informação

O Fronteira 360 nasce para acompanhar tudo o que acontece na Terra dos Presidentes e em toda a região, garantindo uma cobertura completa e imparcial.

Tendência

  • All Post
  • Coluna - Gastão Ponsi
  • Coluna - Gatão Ponsi
  • Cultura
  • Economia
  • Educação
  • Entrevista
  • Esporte
  • Exército
  • Geral
  • Interesse público
  • Meio ambiente
  • Obituário
  • Polêmica
  • Policial
  • Política
  • Religião
  • São Borja
  • Saúde e bem estar
  • Tragédia
  • Uncategorized

Newsletter

Receba em primeira mão

Registre seu e-mail abaixo e receba todas as notícias publicadas diretamente em seu e-mail.

e-mail cadastrado com sucesso E-mail não cadastrado

Anúncie aqui

Sua marca com maior destaque

Recentes

  • All Post
  • Coluna - Gastão Ponsi
  • Coluna - Gatão Ponsi
  • Cultura
  • Economia
  • Educação
  • Entrevista
  • Esporte
  • Exército
  • Geral
  • Interesse público
  • Meio ambiente
  • Obituário
  • Polêmica
  • Policial
  • Política
  • Religião
  • São Borja
  • Saúde e bem estar
  • Tragédia
  • Uncategorized

Instagram

Categorias

Tags

Edit Template
Fronteira 360: O Novo Olhar Sobre a Informação