O movimento é liderado por jovens entre 19 e 29 anos, que somam 48% das demissões a pedido
O número de trabalhadores que decidiram pedir demissão no Rio Grande do Sul disparou no início de 2025. Nos dois primeiros meses do ano, 125.159 pessoas deixaram seus empregos por vontade própria, o que representa 45% de todos os desligamentos registrados no período.
O dado, divulgado pela Fundação Gaúcha do Trabalho e Ação Social (Fgtas) com base no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), sinaliza uma mudança de comportamento no mercado de trabalho gaúcho.
A alta em relação ao mesmo período de 2024 é de 20% — no ano passado, foram 104.316 desligamentos voluntários (42% do total). A diferença de 20.843 saídas indica que cada vez mais trabalhadores estão deixando seus cargos em busca de novas oportunidades ou melhores condições.
Jovens são maioria
O movimento é liderado por jovens entre 19 e 29 anos, que somam 48% das demissões a pedido. Em segundo lugar, estão os trabalhadores entre 30 e 39 anos, com 25%. O dado revela uma mudança geracional.
Segundo o diretor-presidente da Fgtas, José Scorsatto, em entrevista ao Correio do Povo, essa faixa da população não aceita mais “trabalhar em um ambiente tóxico ou que tem horários inflexíveis e expedientes prolongados”.
Segundo ele, a facilidade de encontrar novas vagas e até empreender tem influenciado o cenário. “A maioria desses trabalhadores provavelmente está pedindo para sair por ter achado outra oportunidade. Hoje, com a internet e as redes sociais, também ficou mais fácil de empreender e começar o seu próprio negócio”, afirma.
Apesar da estabilidade oferecida pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), Scorsatto pondera que o regime já não é visto como garantia de segurança. “Quem ingressa no mercado de trabalho atualmente não tem certeza de quando vai conseguir se aposentar, por exemplo”, diz.
Além dos pedidos de demissão, o segundo motivo mais comum para desligamentos no Estado no bimestre foi a demissão sem justa causa, com 99.160 registros (36%). Na sequência, aparecem os contratos encerrados por prazo determinado (15%) e as demissões por justa causa, que representaram apenas 2% (4.349 desligamentos).
A análise da Fgtas também mostra que os pedidos de desligamento são mais comuns entre os trabalhadores com maior escolaridade. Entre os que pediram demissão no início de 2025, 53% tinham ensino médio completo.
Entre os que possuem ensino superior completo, o índice de saídas voluntárias foi 8% maior que a média geral de desligamentos.
2024: recorde de pedidos de demissão no RS
No ano passado, o Rio Grande do Sul encerrou 2024 com 1.539.296 admissões e 1.475.850 desligamentos, com um saldo positivo de 63.446 postos de trabalho. Desse total, 40,9% das demissões foram a pedido do trabalhador — o maior índice desde a criação do Novo Caged, em 2020.
Em 2024, o Estado foi o quinto com maior número de desligamentos voluntários no país, e o sexto com maior proporção de saídas a pedido em relação ao total. Naquele ano, 52% das demissões foram sem justa causa; 27% a pedido do trabalhador e 16% por término de contrato.
A análise da Seção de Informação e Pesquisa da Fgtas também apontou que os pedidos de demissão são mais frequentes entre os mais jovens, mais escolarizados e entre trabalhadores brancos — grupo que representou 71,4% das saídas voluntárias no ano passado.