Três pessoas em situação de rua morreram no Rio Grande do Sul após a madrugada de frio intenso registrada nesta quinta-feira (29). Duas das vítimas foram encontradas em Porto Alegre e uma terceira em Bento Gonçalves.

Segundo informações apuradas pelo Sul21, os óbitos ocorreram em meio a denúncias de remoções de pertences de pessoas em situação de rua, como colchões e cobertas, por parte da Prefeitura da Capital.

As vítimas em Porto Alegre, identificadas como André e “Mano”, foram encontradas sem vida em diferentes pontos da Rua Voluntários da Pátria, no Centro da cidade.

De acordo com a equipe do vereador Pedro Ruas (PSOL), que também preside a CPI da Pousada Garoa, o corpo de André foi localizado na esquina com a Rua Coronel Vicente. O Departamento Médico-Legal (DML) do Instituto Geral de Perícias apontou broncopneumonia agudizada por hipotermia como a causa da morte. Mano foi encontrado cerca de 3,5 km adiante, na esquina com a Rua Paraíba. Seu corpo e colchão estavam encharcados, e a causa da morte foi hipotermia.

A informação chegou ao gabinete de Ruas por meio da Pastoral do Povo da Rua, que relatou que na terça-feira (27) agentes da Prefeitura removeram pessoas e pertences sob o Viaduto da Conceição, local próximo ao ponto onde André foi encontrado.

“Essas mortes aconteceram justamente depois da ordem de retirada desses pertences, de colchões e cobertores”, disse Renato Farias dos Santos, membro da coordenação da Pastoral.

Em nota, a Pastoral afirmou que “discorda totalmente” das ações de remoção, classificando-as como “perversas, pois deixa a população em situação de rua sem proteção no pior período do ano, quando o frio é mais intenso”.

A organização reconhece a importância da criação de vagas emergenciais de acolhimento, como no Ginásio do DEMHAB, mas considera que a medida ainda é insuficiente diante da realidade de quem vive nas ruas: “Quem vive numa região, quem ali recicla, cuida carros, tem suas fontes de renda, não vai atravessar a cidade pra ter um lugar pra dormir”.

De acordo com dados do Cadastro Único de março de 2025, Porto Alegre tem 5.546 pessoas em situação de rua.

Na madrugada em que as mortes ocorreram, a cidade registrou temperatura mínima de 8°C com chuva, segundo a MetSul Meteorologia. A previsão é de frio intenso até o domingo.

“Essa noite foi uma tragédia”, declarou Pedro Ruas ao Sul21, classificando os casos como “demonstração clara de como essa população foi abandonada à própria sorte e miséria pelos governos municipal, estadual e federal”.

O vereador ainda responsabilizou a Prefeitura: “Não é possível aceitar isso, que isso continue. Vamos ter outras madrugadas frias. Essa foi a primeira e morreram duas pessoas. Os governos (estadual e federal) falharam, mas a área social é da Prefeitura e ela é a maior culpada”.

A reportagem do Sul21 procurou a Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc), vinculada à Prefeitura de Porto Alegre, mas não obteve resposta até a publicação.